Sr. Darcy é aquele personagem que povoa a cabeça de mulheres de várias gerações, contudo, muito desse imaginário o reduz, como a Sra. Bennet, as dez mil libras anuais e a enorme propriedade em Derbyshire, isto é, ao fato dele ser absurdamente rico.
Outro fato é uma suposta beleza, reforçada pelas adaptações televisas que escolhem atores charmosos para interpretá-lo, pode até ser que alguém não concorde a respeito do charme dos atores britânicos. Mas quantas mulheres não compartilham diariamente memes com o Mr. Darcy do Firth ou do Macfadyen.
Em outras palavras, os comentários sobre o Sr. Darcy sempre giram em torno de atributos exteriores (dinheiro, boa aparência), jamais aspectos internos (sua personalidade), pelo menos é a impressão que fica, todas as vezes que vejo um comentário ou um suspiro nas redes sociais é por esses caracteres externos (óbvio, há exceções, existem análises muito profundas e elaboradas por aí).
Sem mais delongas, Sr. Darcy no começo do livro é um homem taciturno e esnobe, com um orgulho suportável apenas por bajuladores profissionais, como a Srta. Bingley ou o Sr. Collins, ou claro, para aqueles, como Sr. Bingley ou sua irmã Georgiana, detêm o alto privilégio de sua amizade e consideração.
Sr. Darcy nem ao menos tenta ser agradável com quem não cumpriu certos requisitos para ter a honra de estar no seu estrito círculo de amigos, dentre os requisitos, incluem a sorte de um berço nobre (como diria o Sr. William Elliot, de Persuasão, requisito único para tornar alguém uma boa companhia) e não simpatizar com Sr. Wickham (ok, nesse ponto, ele provou estar coberto de razão).
Pois bem. O divisor de águas na vida do Sr. Darcy será o estrondoso fora que levará de Lizzy, apesar da injustiça manifesta em um ponto, as palavras dela o atormentaram por um bom tempo porque continham um bocado de verdade dolorosas. No final, ele admite a falta de delicadeza na sua confissão e até mesmo todo o ressentimento destilado na longa carta de explicações.
Na visita a Pemberley, seu esforço para melhorar a opinião de Elizabeth sobre si é visível, a mudança é da água para o vinho, como termômetro podemos verificar a luz favorável dos tios de Lizzy, que se espantam com o contraste do que presenciaram com a descrição tão pouco favorável de seus parentes de Hertforshire a respeito do rapaz.
O ápice do amadurecimento de Darcy é apresentado na postura que toma no escândalo de Lydia e Wickham, no qual não poupa esforços para contornar a situação humilhante que a família Bennet vivia, e não só isso deseja o anonimato absoluto, sem querer forçar um sentimento de gratidão em Elizabeth, que poderia deixá-la mais inclinada a aceitar sua mão em casamento.
Vale destacar que, à primeira vista, pode parecer de pouca monta, a solicitude com que Lizzy e seus tios são recebidos em Pemberley, todavia, não é assim não, a atitude de Darcy foi de uma dignidade ímpar, lembre-se de que ele é um homem de um orgulho extremo, e Elizabeth havia há muito pouco tempo o rejeitado da maneira mais humilhante possível. A atitude é de uma virtude sem tamanho, ainda mais que ela se coloca numa situação vulnerável e embaraçosa, aberta a vingança fácil e sem perspectiva de retaliação. Nem precisamos ir muito longe, é só comparar a postura do sr. Collins numa situação bastante semelhante, ao contrário de Darcy, Collins não perdeu a oportunidade de tentar constrangê-la todas as vezes que pode.
Enfim, o amadurecimento de Darcy foi admirável, tornou-o capaz de perdoar a Lizzy com toda a sinceridade do seu coração, além do ato de magnanimidade no que tocou o escândalo de Lydia e Wickham, onde ele precisou superar todo o seu orgulho para ajudar a Lizzy e sua família.